Desolado, o Burro caminhava de um lado para outro. Parecia gesticular com amargura. Na verdade, em seus pensamentos, recordava-se daquele primeiro livro que a raposa havia roubado aos homens, e o quanto ele havia sido útil para os primeiros aprendizados, sobretudo para o Professor Corujão, o Sábio. E lembrava-se sobretudo do papagaio que, cansado do convívio com os homens, os havia abandonado e se internado na floresta. E muito mais: que as primeiras palavras ensinadas aos animais haviam partido do papagaio, que conhecia a linguagem dos homens. E como o Professor Corujão era um sábio, então, o desenvolvimento da palavra lhe foi muito fácil para, depois, ela ser repassada para os demais animais. Aconteceu que o Professor Corujão não se satisfez com aprender, tornando-se um mestre.
E coitada da raposa, que jamais parou de roubar livros aos homens. E também do papagaio, que muitas vezes tinha suas limitações, mais das vezes decifradas pelo próprio Professor Corujão, pacientemente, até que um dia, finalmente, a raposa lhe trouxe um Dicionário , tornando as coisas bem mais fáceis. E mais tarde uma Bíblia, outro livro da maior importância, embora bem mais difícil. O Professor Corujão até mesmo já havia fundado escolinhas para os outros animais. Depois o Burro não se conteve:
– Os homens não são de brincadeiras, não é professor ?
O Professor Corujão, como sempre, calmo, respondeu, pensativo:
– Os homens são seres inteligentes, de muita força, criativos. Criatividade é virtude exclusiva dos homens, nos seus graus mais complexos. Mas as duas coisas podem se tornar perigosas, em determinados momentos. Aquele ali, apontando para o piloto desacordado, por exemplo, nada está podendo fazer, caso tenha alguma missão importante. Mas infelizmente teremos de soltá-lo, após interrogatório.
O Rato deu sinal de preocupação:
– Não estou entendo, pois sabemos que os homens não soltam os animais aprisionados.